quarta-feira, 15 de agosto de 2012

AMIZADE DE 40 ANOS

Boa noite!

Tenho tantos assuntos, tantas crônicas já escritas, guardadinhas, esperando o dia para dividir com vocês...
Hoje, surgiu um pensamento sobre o local onde moro. Tudo porque uma pessoa querida, jornalista, postou
no facebook sobre o tempo que estava perdendo no trânsito. Logo várias pessoas, inclusive eu, comentamos sobre o assunto.
Alguns sugeriram sair do País, da Cidade de São Paulo, etc.

Fiquei pensando se teria coragem de ir embora...

Moro em Osasco,São Paulo desde sempre. Praticamente na mesma rua. 
Tem cinco famílias que estão juntas aqui, há quarenta anos.
Em todos esses anos, todos nós já passamos juntos pela escola, adolescência, íamos aos domingos nas matinês de uma Discoteca, aqui pertinho. Só tinha dinheiro para um refrigerante mas, era o máximo, afinal, a gente só queria dançar. Ensaiávamos durante a semana só pra isso.
Depois nos casamos, nasceram os filhos. Nos divorciamos. Nos casamos novamente. Nasceram os filhos, os netos.
A gente não vive um na casa do outro mas, nas festinhas das crianças, estamos lá, pra ajudar na cozinha, ajudar a servir os convidados e limpar tudo depois.
Nos velórios, estamos lá, pra fazer um cafezinho na madrugada. Fazer uma sopinha para os mais velhos.
Um sempre fica em casa com todas as crianças.
Nos casamentos, passamos um na casa do outro para dar caronas, nem todos tem carro.
Recebemos um ao outro quando as coisas apertam. A filha engravida, o filho não quer estudar, o desespero toma conta quando perdemos o emprego. Quando a família está em crise, vem um por um para desabafar e a gente costuma ser muito sincero. 

O amigo de tantos anos, tem o prazer em mostrar o pequeno sítio que conseguiu comprar e a gente vai lá. Damos palpite na decoração, no jardim, levamos até umas flores e já indicamos onde devem ser colocadas. Isso não gera nenhum desconforto, afinal, uma amizade de quarenta anos, permite que a participação seja bem vinda.
Pede uma roupa emprestada para um evento especial.
Vamos ao supermercado juntas, economiza gasolina e é mais divertido claro. O empacotador sabe até que deve dividir as compras no porta malas.
Na padaria, eles já sabem o que a gente gosta. Se passo por lá fora do horário costumeiro, perguntam se aconteceu alguma coisa...
Trocamos roupas, sapatos, receitas sem o menor problema.
Fazemos a decoração das festinhas, o conserto de eletrodomésticos, costura, penteados, tudo de graça.
Digam-me, como cobrar dessas pessoas que estão na nossa vida há tanto tempo?
Na feira então, sempre as mesmas barracas. É mais fácil, já separam tudo, fazem agrados com a fruta que a gente não quer levar porque está caro. Conversamos sobre a vida.

Quando estamos juntos, seja qual for o evento, é tipo a família da novela das oito. Aquela bagunça, todos falam ao mesmo tempo, criança correndo, à mesa, um comenta algo que já deixa o outro nervoso, já dá início a uma discussão, de repente acaba e a gente fica no meio, porque somos da família né? Não de sangue mas, de vida...

Aqui, não é um lugar bonito mas, sabemos o que realmente importa. O que fica nesses anos todos é o companheirismo. A tolerância. O "não julgar". O abraço nas horas difíceis. A lágrima que corre bem devagar no cantinho dos olhos, por alegria ou tristeza. É bom olhar nesses momentos e ver que mesmo sem nenhuma palavra, essas pessoas estão ali, pertinho da gente. Prontas para o que der e vier.

Fizemos esforços para que nossos filhos e até netos tenham uma vida bem melhor. Hoje eles são engenheiros, enfermeiras, tecnólogos, advogados etc. Alguns vão embora, outros continuam por aqui.

Penso que esse calor, essa amizade, não tem em nenhum outro lugar. Por isso, não tenho coragem de ir embora.

beijos
Rubia









Um comentário:

  1. Ir embora pra quê? Nada mais gostoso e importante do que as amizades duradouras, de estar perto da família e de amigos que se tornaram parte da família.
    Eu saí de casa, de cidade, de país e não me arrependo. Eu precisava, eu ansiava por conhecer mais, queria ver o mundo. Valeu, e vale a pena para mim, mas com o passar dos anos tenho sentido falta de estar + perto da família, saudade de amigos com quem convivi boa parte de minha vida, de minha juventude.
    Acho que tudo tem um preço, quem fica perde a chance de ver o mundo de uma maneira diferente, de viver experiências e conhecer pessoas q somente quem 'sai' tem a chance, mas quem sai perde a chance de viver mais simplesmente, sente falta das raízes, e os amigos dificilmente se tornam parte da família.
    Gostei muito de seu relato.

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